quinta-feira, 29 de julho de 2010

A plenitude do Espírito Santo no livro de Atos

INTRODUÇÃO

A leitura de Efésios 5:18 inevitavelmente instiga o cristão a observar a recomendação imperativa de Paulo para encher-se do Espírito Santo. Afinal, encontram-se na Bíblia diversas pessoas que, ao seu tempo, eram cheias do Espírito e cumpriam em suas vidas o maravilhoso propósito de Deus. Se viver desta maneira constitui uma grande e desejada benção para o cristão, compreender o que significa a plenitude do Espírito Santo resulta em um tema de relevante importância teológica.
De fato, “ser cheio do Espírito Santo deve ser o grande desejo de todo o filho de Deus” (Hatcher, 1981, p. 106). Alguns exemplos de pessoas cheias do Espírito Santo podem ser mencionadas a título ilustrativo, como João Batista[1] e Estevão[2], mas acima de todos, Jesus Cristo[3]. Ainda, pode ser mencionado Pedro, cheio do Espírito Santo, que através de um discurso, converteu quase três mil almas em Atos 2.
Deste modo, o propósito deste trabalho é investigar a respeito da plenitude do Espírito Santo na vida das pessoas, buscando contribuir com o entendimento e a reflexão de tantos quantos tem buscado conhecer e encontrar a Deus. Naturalmente, o trabalho encontra a limitação própria do ser humano, limitação esta que não permite compreender integralmente a grandiosidade e a majestade de Deus.
Em muitas passagens bíblicas verifica-se o agir do Espírito Santo sobre as pessoas. Entretanto, buscando delimitar a investigação, realiza-se a opção de pesquisar no livro de Atos as passagens bíblicas que mencionam pessoas cheias do Espírito Santo. Este livro tem especial importância por muitas razões, dentre as quais pela narrativa da descida do Espírito sobre os primeiros cristãos que estavam reunidos em Jerusalém.
O primeiro capítulo destina-se à fundamentação bíblico-teológica da plenitude do Espírito Santo, nomeadamente no livro de Atos. Em um segundo capítulo, o trabalho evidenciará o pensamento da doutrina a respeito deste tema, de modo que este possa ser refletido sob o contexto atual. Por fim, na parte final, procura-se estabelecer as principais conclusões deste caminho metodológico, que tem início na Bíblia e passa necessariamente por alguns estudos doutrinários já realizados antes deste trabalho que, naturalmente, não poderia ter a impossível pretensão de esgotar o tema.

A PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO EM ATOS

Em sentido coloquial, a palavra plenitude corresponde a um substantivo feminino que se refere à qualidade ou ao estado daquele que é pleno, cheio, repleto, completo, inteiro, absoluto. O adjetivo pleno, além destes vários significados, também pode se referir ao que é perfeito e acabado.
Sendo assim, em um primeiro momento, a expressão “plenitude do Espírito Santo” parece designar a qualidade ou o estado do Espírito Santo, enquanto pessoa da Santíssima Trindade. De fato, pode-se compreender Deus como pleno, completo, inteiro, absoluto e perfeito. Porém, não é este o sentido buscado quando se utiliza a expressão “plenitude do Espírito Santo” para dizer que o cristão está cheio do Espírito Santo. Afinal, se o corpo do cristão é o templo onde o Espírito Santo habita, quem detém a qualidade ou o estado de cheio, repleto, completo é o cristão, e não Deus. É o cristão que está cheio, repleto e completo da presença e do agir do Espírito Santo. O cristão seria o continente, caso fosse possível imaginar equivocadamente que Deus pudesse estar contido em algum lugar. A partir desta argumentação, pode-se afirmar que a expressão que se pretende definir nada mais representa do que uma metáfora, já que Deus (ou a sua presença) não pode ser limitado à noção de conteúdo. Pode-se afirmar, ainda, que a melhor expressão metafórica que corresponde à idéia que se pretende desenvolver é “a plenitude do Espírito Santo na vida do cristão”.
Como bem explica René Pache (1957, p.131), “a Bíblia não contém exactamente esta expressão; mas em muitas passagens ela fala da possibilidade e da necessidade dos crentes se ‘encherem do Espírito’. Se, então, falamos às vezes da ‘plenitude do Espírito Santo’, é por comodidade de linguagem, pois isso significa ser ‘cheio do Espírito’”.
Jesus Cristo, antes de ser elevado às alturas, revelou aos seus apóstolos a promessa do Pai, de que não muito depois daqueles dias, seriam batizados com o Espírito Santo e que receberiam poder, com o propósito de serem suas testemunhas em todos os locais da terra (At 1:5;8). De fato, não muito tempo depois, todos estavam reunidos quando ficaram cheios do Espírito Santo em Pentecostes, conforme Atos 2:4.
Sem dúvida, o discurso de Pedro em Atos 2, que converteu três mil pessoas, foi obra do Espírito Santo. Pedro era cheio do Espírito, conforme também confirma a Bíblia em Atos 4:8.
A igreja primitiva orava com o propósito indicado por Jesus, para que Deus concedesse aos seus servos que anunciassem a sua Palavra com toda a intrepidez, em Atos 4:23-31. Tendo eles orado, todos ficaram cheios do Espírito Santo e cumpriam o propósito divino, com toda intrepidez (At 4:31).
Os doze discípulos determinaram fossem escolhidos sete homens cheios do Espírito Santo e de sabedoria por ocasião da instituição dos diáconos, em Atos 6. No versículo 5 deste capítulo, a Bíblia narra que foram escolhidos Estevão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau. Entretanto, cumpre notar que o versículo evidenciou apenas Estevão como “homem cheio de fé e do Espírito Santo”. A plenitude do Espírito Santo na vida de Estevão foi confirmada em Atos 7:55.
Paulo foi procurado por Ananias por ordem do Senhor, para que ficasse igualmente cheio do Espírito Santo, como se verifica em Atos 9:17. De fato isto ocorreu, o que se percebe por todo o trabalho deste apóstolo, e se confirma expressamente em Atos 13:9.
O versículo 24 de Atos 11 descreve Barnabé como homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé.
Estas são algumas passagens bíblicas que se referem expressamente a pessoas cheias do Espírito Santo. O adjetivo grego plèrès (πληρης), que significa cheio e completo “aplica-se também a pessoas, nos escritos de Lucas e João. Um homem pode ser cheio do Espírito Santo, cheio de fé, ou cheio de boas obras (cf. At 6:3, 5; 9:36)” (Coenen & Brown, 2000, p. 1673). Os verbos gregos plèroò (πληρόω) e pimplèmi (πίμπλημι) significam encher e completar, e se empregam apenas no passivo, no contexto de pessoas cheias do Espírito (Coenen & Brown, 2000, p. 1676).
Segundo Coenen & Brown (2000, p. 1677), “aquilo que foi, até ao Pentecostes – data decisiva da igreja universal – o privilégio de apenas poucos indivíduos, ficou sendo, a partir daquela data, a característica mais importante da igreja judaica, e, subsequentemente (cf. At cap. 10), da igreja gentia”. Ocorre, porém, que o enchimento do Espírito não importava em um fim em si mesmo, mas era a condição prévia (e por que não, necessária) para o cristão, em uma situação missionária, levar com intrepidez a mensagem do evangelho até os confins da terra. De fato, esta é a tônica do versículo-chave do livro de Atos, ou seja, Atos 1:8.
Uma vez identificado o contexto bíblico da plenitude do Espírito Santo no livro de Atos, nomeadamente relacionado com a missão evangelística confiada por Cristo aos seus apóstolos, importa no próximo capítulo desta breve pesquisa estudar a interpretação teológica sobre a plenitude do Espírito Santo na vida dos cristãos dos dias atuais.

INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA SOBRE A PLENITUDE DO ESPÍRITO

Como ressaltado nas notas introdutórias, é natural e visível nas pessoas cristãs o desejo de atender a recomendação imperativa bíblica de encher-se do Espírito Santo. Este desejo se potencializa na medida em que a leitura bíblica revela os grandes feitos de personagens na comunidade cristã do primeiro século. Hatcher (1981, p. 106) esclarece que “ser cheio do Espírito Santo significa que o crente está se desenvolvendo normalmente como um filho de Deus deveria desenvolver-se. Significa que o crente está se tornando semelhante a Jesus. (Ver Efésios 4:13)”. É fato que “toda e qualquer pessoa salva pode ser cheia do Espírito. Isso é uma verdade porque toda pessoa salva é nascida do Espírito de Deus. Qualquer pessoa nascida do Espírito pode ser cheia do Espírito Santo.” (Hatcher, 1981, p. 107).
Na mesma proporção, entretanto, a plenitude do Espírito Santo parece não ser bem compreendida por alguns cristãos atuais. Tem-se a impressão de que os mencionados grandes feitos eram obras de seres humanos, olvidando-se do real agir do Espírito Santo neste mundo. Por outro lado, percebe-se em alguns cristãos o desejo de alcançar a plenitude do Espírito Santo para satisfazer fins eminentemente pessoais. Deste modo, Pache (1957, p. 135) corretamente adverte que “estar cheio do Espírito não quer dizer que nós temos mais do Espírito, para dispor d’Ele de qualquer maneira, mas bem pelo contrário, que Ele tem mais de nós próprios e nos tem inteiramente à Sua disposição.” Para Bravo, “a exortação para encher-se do Espírito é uma exortação de completa rendição para Ele. Quanto mais nos esvaziamos de nós mesmos, dEle nos enchemos e maior será a manifestação do seu poder em nossas vidas” (1958, p. 61).
Há, de fato, um propósito na plenitude do Espírito Santo na vida do cristão. Conforme esclarece Bravo (1958, p. 53), “na plenitude do Espírito, Ele toma conta inteiramente do nosso coração, aniquila o homem velho e nos ensina a vontade de Deus, fortalecendo-nos e dando-nos poder para o trabalho. O novo nascimento nos comissiona à salvação; a plenitude ao trabalho. Pelo novo nascimento nascemos no reino de Deus; pela plenitude recebemos um trabalho no Reino”. Assim, tal como na igreja primitiva, o propósito do cristão encher-se do Espírito Santo é alcançar poder, não para benefício próprio, mas para benefício de todos os seres humanos. Neste sentido, Bravo afirma que “a plenitude do Espírito, é um novo poder dado ao crente para a vida e para o serviço do Reino” (1958, p. 64).
Sobre o propósito da plenitude do Espírito Santo, Heijkoop (1978, p. 66) também leciona que pela leitura atenta das passagens bíblicas que tratam do tema “havemos de ver que ser ‘enchido’ do Espírito Santo tem sempre ligação com o serviço de Deus, e algumas vezes com uma missão no tempo definido, como no caso de João Baptista e Paulo, mas na maioria dos casos com missões, profecias e testemunho.” O significado de “ser enchido”, segundo o autor, pode ter a resposta encontrada em Atos 1:8, com o fato de ser testemunha.
Nem sempre as obras humanas são resultado do agir do Espírito Santo. De acordo com Hatcher (1981, p. 112), “há três qualidades que as obras do Espírito sempre possuem, e Ele quer que essas qualidades guiem as vidas daqueles em quem Ele habita.” Este autor prossegue esclarecendo que “Ele produz bondade, pureza e verdade na vida diária do crente – nos seus pensamentos, nas suas palavras e nas suas ações. O Espírito Santo não atua para produzir superficialidades religiosas” (1981, p. 112). De fato, em Efésios 5:9, está que escrito que o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade. Estas qualidades servem para análise sobre a origem humana, ou divina, dos atos cristãos.
Sabendo-se as características do agir do Espírito Santo na vida das pessoas, questiona-se se tais características são duradouras na vida do cristão, ou se remanescem apenas durante momentos específicos e limitados. Heijkoop (1978, p.65) refere que:
“esta expressão não diz respeito a nenhuma condição passageira; se bem que não quer dizer que Barnabé tenha permanecido nesse estado até à sua morte. Indica uma condição espiritual da alma, na qual não há nada que venha estorvar a obra do Espírito Santo, e na qual todos os sentimentos, pensamentos, palavras e obras, são verificadas por Ele. Que maravilhosa condição!”.
Segundo Heijkoop, portanto, a condição do ser humano encher-se do Espírito Santo não representa uma condição passageira. Ele prolonga-se no tempo, na medida em que o cristão cultiva bons hábitos; lê, medita dia e noite e observa as escrituras; permitindo, enfim, a influência do Espírito Santo em sua vida. O encher do Espírito Santo não resulta em apenas experiências momentâneas, físicas e emocionais na vida do cristão. Conforme Hatcher (1981, p. 115), comparando Efésios 5:18 com Colossenses 3:16, pode-se afirmar que “enchei-vos do espírito” é o mesmo que “habite ricamente em vós a palavra de Cristo”. Afinal, os resultados são os mesmos, conforme versículos que seguem nos dois livros. Sendo assim, “a expressão ‘enchei-vos do Espírito’ significa que devemos encher as nossas vidas com a Palavra de Deus, mediante o estudo, a meditação e a obediência submissa à mesma” (Hatcher, 1981, p.115). De fato, em João 6:63 encontra-se a lição de que as palavras de Cristo são espírito e vida.
Deste modo, a plenitude do Espírito Santo parece compreender, então, um processo de “enchimento”. Não se trata de um fato instantâneo, que transforma o ser humano imediata e indelevelmente. Conforme Bravo (1958, p. 54):
“a velha natureza não sai, quando entra a nova, sendo mui claras sobre isto a Palavra de Deus e a nossa própria experiência. Agora, tem o pecador como que uma dupla natureza, na qualidade de crente. Existem nele ‘o Espírito’ e a ‘carne’, a vida nova e antiga, que são coexistentes. Ambas residem nele. Inimigos mortais, cada qual luta para dominá-lo. ‘A carne deseja contra o Espírito e este contra a carne’, desejando uma e outra não só estar nele, mas também possuí-la completamente.”
O crente tem a faculdade da escolha, podendo escolher entre a carne e o Espírito conforme esteja inteiramente sujeito àquele de que deseja tornar-se repleto. “Estar cheio do Espírito envolve um processo de crescimento contínuo e não uma experiência repentina. Uma pessoa cheia do Espírito viverá o tipo de vida que Jesus viveu – uma vida caracterizada pela obediência às Escrituras” (Hatcher, 1981, p. 106).
Isto não quer significar que as pessoas não possam ser cheias do Espírito Santo em um instante, se esta for a vontade de Deus, tal como ocorreu no dia de Pentecostes (At. 2:4) ou na oração da igreja em Atos 4:31. Pache (1957, p. 143) refere que “o Espírito quer, pelo contrário, encher-nos inteiramente, tais como somos, para conduzir-nos passo a passo à perfeição”. Segundo este autor, somente na glória o ser humano poderá ser cheio de toda a plenitude de Deus, mas “o Espírito pode e quer encher-nos hoje, num instante, à medida da nossa capacidade”. De fato, é preciso perceber que os seres humanos não são iguais entre si. Portanto, a plenitude do Espírito Santo existe em cada crente, porém na proporção de sua capacidade pessoal. A partir desta condição pessoal, o Espírito conduz o homem em um processo de enchimento, até transbordar da plenitude de Deus.
Segundo Hatcher (1981, p. 109) através do processo “Deus toma posse da vida que foi comprada ao preço do sangue de Jesus Cristo”. A vida da pessoa é como uma habitação espiritual (Ver 1 Coríntios 6:19). A partir do momento em que a pessoa crê em Cristo, o Espírito Santo vem viver na sua vida salva. O Espírito Santo pretende dirigir esta vida com o fim de seu desenvolvimento espiritual, no crescimento da fé. A vida do crente deveria ser como a vida de Jesus. No entanto, a vida do pecador é como uma casa velha, em estado deplorável, comprada pelo preço integral por Cristo para ser habitáculo do Espírito Santo (1 Cor. 6:20). O Espírito de Deus passa a habitar a casa e a arrumar, cômodo a cômodo, ou seja, remover tudo o que não é bom, substituindo por bons pensamentos, bons hábitos, confissão de pecados, arrependimento, nova conduta. Encher-se do Espírito Santo é permitir que Ele tome posse plena e perfeitamente da vida que Jesus adquiriu (Hatcher, 1981, p. 108/111).
Um outro ponto que merece análise é a forma como o cristão alcança a plenitude do Espírito Santo. Ou seja, alguns autores dizem que o cristão deve orar para tornar-se cheio do Espírito, enquanto outros contestam este entendimento. Heijkoop (1978, p.67), por exemplo, escreve que “orar para receber o Espírito Santo, como fazem alguns, está em completa contradição com a verdade revelada”. Isto porque não se encontra “nada acerca de orar pelo Espírito Santo, se bem que em Efésios 5:18 sejamos exortados a enchermo-nos do Espírito. Só em Actos encontramos de terem levantado unânimes a voz a Deus rogando-Lhe que lhes concedessem poder para pregar a sua Palavra. E como resposta foram cheios do Espírito Santo e falavam a Palavra de Deus com toda a liberdade”
Bravo (1958, p. 65), por outro lado, entende que:
“é necessário que um a um, todos da Igreja que ainda não a possuem, sintam essa necessidade e em orações constantes e fervorosas peçam-na a Deus, que a todos dá liberalmente. Deus tem hoje um grande trabalho para a Igreja. Quando estamos cheios do Espírito, Ele nos revela qual o trabalho que temos a fazer no seu Reino. Buscar pois a plenitude do Espírito é hoje uma urgente necessidade, a fim de que a obra não pereça, e os dons sejam revelados na edificação da Igreja de Deus”.
Bravo (1958, p. 66) completa, “mas isto não deve ser a parte dos verdadeiros servos: esperar sem procurar. Pelo contrário, o verdadeiro servo procura se preparar para receber a missão e bem desempenhar o seu trabalho”.
Não obstante, o próprio Bravo admite (1958, p. 69), que “o Espírito é soberano. Age onde, quando e como quer, independente de nosso gosto e muitas vezes contra ele”. Ainda afirma que “é possível que a plenitude possa ser dada a pessoas que não orarem por ela. Pode ser que uma pessoa receba, porém uma igreja inteira nunca receberá a plenitude do Espírito, se ela toda não estiver orando para isso” (1958, p. 70).
Depreende-se, nesta questão, que orar é preciso, não para o fim específico de receber o Espírito Santo como resultado de uma fórmula mágica dominada pelo ser humano e que pode ser ensinada em livros. Orar é preciso pois constitui algo indispensável para o ser humano manter relacionamento com Deus, demonstrando também submissão ao Pai e disposição para estar com Ele. Jesus Cristo nos ensinou a orar, e é preciso seguir o Mestre. Deste modo, o ser humano fica vazio de si mesmo e se enche da presença do Espírito de Deus.
Finalmente, é possível compreender que a plenitude do Espírito Santo pode, de fato, extinguir-se na vida do cristão. Hatcher (1981, p. 121) esclarece que:
“Quando os crentes vivem seguindo os seus desejos carnais e desfrutam dos prazeres mundanos, o Espírito Santo é impedido de tornar suas vidas semelhantes à de Cristo Jesus. (ver Gálatas 5:16). Lembre-se que o Espírito Santo é uma pessoa. Podemos entristecê-Lo, podemos oferecer-Lhe resistência e podemos abafá-Lo. Quando essas condições prevalecem em nossas vidas, o Espírito Santo não pode nos encher”.
Hatcher (1981, p. 121), fundamentando-se no versículo de 1 Tessalonicenses 5:19 esclarece que “extinguir o Espírito é a mesma coisa que apagar as chamas, abafar”. Assim, “o Espírito Santo pode ser extinguido – interrompido ou ignorado – por falta de dedicação e por falta de submissão à vontade de Deus. A indiferença também abafa o Espírito” (1981, p. 122). Enfim, extinguir o Espírito Santo significa que o ser humano abandonou o relacionamento com Deus e procura viver apenas para si, atendendo aos seus próprios desejos e interesses.

CONCLUSÃO

A plenitude do Espírito Santo na vida do cristão constitui tema teológico de grande importância, instigando a prossecução dos estudos e o futuro aprofundamento da pesquisa.
A expressão plenitude do Espírito Santo constitui uma metáfora, que não é utilizada expressamente pela Bíblia. Refere-se à possibilidade e à necessidade dos cristãos serem cheios do Espírito Santo.
No livro de Atos, a Bíblia menciona como os apóstolos, e em especial pessoas como Pedro, Paulo, Estevão e Barnabé, eram pessoas cheias do Espírito Santo. O verbo cheio aparece neste livro bíblico sempre na forma passiva, como plèroò e pimplèmi. Já, o adjetivo plèrès, que significa cheio, refere-se às pessoas e é utilizado nos escritos de Lucas e João. No livro de Atos, a plenitude do Espírito Santo estava relacionada com a obra de Deus na terra.
Qualquer pessoa salva pode ser cheia do Espírito Santo, enquanto nascida do Espírito de Deus. A plenitude do Espírito Santo constitui, para os cristãos, um desejo natural e necessário para seu crescimento espiritual. Entretanto, a plenitude não deve servir para satisfazer interesses pessoais ou para alcançar prestígio através de boas obras. É preciso esvaziar-se de si mesmo, para ser completo pelo agir do Espírito Santo. O propósito do cristão se encher do Espírito Santo é alcançar poder, não para benefício próprio, mas para benefício de todos os seres humanos.
A presença do Espírito Santo na vida do crente produz atos de bondade, de justiça e de verdade. Esta condição tende a se prolongar no tempo, refletindo bons hábitos e a prática da Palavra de Deus pelo cristão. A plenitude do Espírito não resulta de simples experiências momentâneas, físicas e emocionais. Ainda que, segundo a vontade de Deus, a plenitude do Espírito Santo possa ser alcançada instantaneamente, como ocorria na igreja antiga, ela atualmente compreende, na maioria das vezes, um processo de transformação do ser humano. Os seres humanos não são iguais entre si. Portanto, a plenitude do Espírito Santo existe em cada crente, porém na proporção de sua capacidade pessoal. A partir desta condição pessoal, o Espírito conduz o ser humano em um processo de enchimento, até transbordar da plenitude de Deus.
A oração deve ser uma prática habitual do cristão, mas não tem relação direta e necessária com o alcançar da Plenitude do Espírito Santo. O Espírito age quando e como quer. Em oração, o cristão deve-se colocar à disposição de Cristo, mantendo um íntimo relacionamento com Deus. O Espírito Santo encherá a vida do cristão, impulsionando-o a fazer a obra segundo a vontade de Deus.
O cristão que vive sem procurar ser um imitador de Cristo, dedicando-se apenas às vontades do mundo, pode também entristecer o Espírito, assim como extingui-lo em sua vida.
Assim, a plenitude do Espírito Santo se alcança dia a dia, segundo a capacidade pessoal de cada um. O cristão espera que um dia a plenitude do Espírito Santo possa extravasar em sua vida, derramando-se mais e mais como benção sobre a vida do próximo.
De tudo o que se discorreu neste trabalho, pode-se concluir que a plenitude do Espírito Santo na vida do cristão importa em um estado de submissão a Deus e disposição para o Reino de Deus, mediante o esvaziamento de si próprio para ser, ato-contínuo, preenchido pela presença do Espírito de Deus, de modo que esta presença conduza o cristão a cumprir a obra do Pai, assemelhando o seu viver ao de Jesus Cristo, com atos de bondade, justiça e verdade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAVO, Zacharias. Mas recebereis o poder... São Paulo: Hinman & Overholt, 1958.
COENEN Lothar & BROWN Colin (orgs.). Dicionário internacional de teologia do novo testamento. Tradução Gordon Chown. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2000.
HATCHER, John A. Conheça o Espírito Santo. Garça: Imprensa da Fé, 1981.
HEIJKOOP, H. L. O Espírito Santo. 2. ed. Lisboa: Minerva, 1978.
PACHE, René. A pessoa e a obra do Espírito Santo. Leiria: Vida Nova, 1957.

NOTAS

[1] Que não bebia vinho, nem bebida forte, e era cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe Isabel (Lc 1:15).
[2] Conforme Atos 6:5.
[3] De acordo com Lucas 1:1.
Este é um trabalho de pesquisa apresentado em cumprimento às exigências da disciplina de Teologia Sistemática II do Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade Teológica Sul Americana, ministrada pelo Prof. Reginaldo Von Zuben.

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